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Educação para o Trânsito e Transversalidade, na Prática

“Em vez do professor usar a frase: Lili gosta muito do seu cachorrinho branco, pode-se dizer: Lili sempre atravessa na faixa de pedestre”. (Rozestraten, 2004)
No exemplo citado por Rozestraten, percebemosuma forma de abordar a educação para o trânsito de maneira transversal. Além do professor de alfabetização abordar a formação de palavras, poderá interpretar a frase orientando sobre o significado e a importância da faixa de pedestres.
Os temas transversais, propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, são: ética, cidadania, meio ambiente, pluralidade cultural, saúde, orientação sexual e social, trabalho, consumo e temas locais. Os critérios de escolha foram: urgência social, abrangência nacional, possibilidade de ensino e aprendizagem no ensino fundamental, favorecer a compreensão da realidade e a participação social, e devem ser trabalhados nas unidades escolares, no intuito de expressar conceitos e valores, indispensáveis a uma sociedade organizada.
Por tratarem de questões sociais, os Temas Transversais têm natureza diferente das áreas convencionais. Sua complexidade faz com que nenhuma das áreas, isoladamente, seja suficiente para abordá-los. Ao contrário, a problemática dos Temas Transversais atravessa os diferentes campos do conhecimento. Por exemplo, a questão ambiental não é compreensível apenas a partir das contribuições da Geografia. Necessita de conhecimentos históricos, das Ciências Naturais, da Sociologia, da Demografia, da Economia, entre outros. (BRASIL, 1997, p.29)
O trânsito está inserido na vida das pessoas, faz parte da organização da sociedade e por isso precisa ser trabalhado nas escolas. A questão do trânsito é considerada como tema local nos documentos dos Parâmetros Curriculares Nacionais, ou seja, deve ser trabalhado em regiões brasileiras onde o trânsito constitui um problema social grave e urgente.
Sabe-se, no entanto que a necessidade de um trânsito seguro transcorre por todo o território brasileiro, pois mesmo aquele que só vai à cidade de vez em quando, precisa transitar com segurança.
Reafirmando o indicativo dos PCNS, em 2009, foi publicado pelo Denatran, por meio da portaria 147, as Diretrizes Nacionais da Educação para o Trânsito, cujo texto estabelece que o trânsito deve ser trabalhado de maneira transversal na pré-escola e no ensino fundamental. Este documento, apresenta, em seus anexos, sugestões de atividades envolvendo o trânsito e os conteúdos curriculares.
Além disso, o trânsito, como tema transversal na escola, está apontado também na BNCC – Base Nacional Comum Curricular, com o seguinte texto:
[…] cabe aos sistemas e redes de ensino, assim como às escolas, em suas respectivas esferas de autonomia e competência, incorporar aos currículos e às propostas pedagógicas a abordagem de temas contemporâneos que afetam a vida humana em escala local, regional e global, preferencialmente de forma transversal e integradora. Entre esses temas, destacam-se: direitos da criança e do adolescente (Lei nº 8.069/199016), educação para o trânsito (Lei nº 9.503/199717) […] (BRASIL, 2017. Pag. 19)
Educar para o trânsito de forma transversal, nas escolas, implica em articular os conteúdos das disciplinas curriculares com os conteúdos que tratam da segurança nas vias, de maneira abrangente e integrada.
Neste sentido, façamos o seguinte questionamento: Como trabalhar o trânsito contextualizado com as disciplinas curriculares, na prática?
Este modelo de atividade pode ser realizado para fixar os conteúdos matemáticos referente às “quatro operações matemáticas”. A atividade pode ser desenvolvida aumentando ou diminuindo o grau de dificuldade, conforme o nível dos estudantes. Os números não precisam estar na sequência. É um exercício que desperta a curiosidade dos estudantes, proporcionando um maior interesse e possibilitando mais facilidade em assimilar o conteúdo, pois eles aprendem brincando.
2 – Conteúdos: Quatro operações com números naturais, congestionamento, transporte coletivo, gentileza, faixa de pedestres, passarela, uso do capacete.
Descubra a solução
1. 260 moradores do condomínio Estrela iam sozinhos de carro para o trabalho. Resolveram dar carona uns para os outros, colocando quatro pessoas em cada carro. Quantos carros deixaram de circular no trânsito?
195 carros
2. No ônibus embarcaram 70 pessoas, mas havia apenas 42 lugares. Quantas pessoas ficaram em pé no ônibus?
28 pessoas.
3. Na faixa de pedestres da Rua Central atravessam 76 pessoas por hora. Quantas pessoas atravessam em 12 horas?
912 pessoas.
4. Na passarela da Avenida passam 55 estudantes a cada 05 horas. Quantos estudantes passam a cada 15 horas?
165 estudantes.
5. Na loja de Seu Manuel são vendidos 21 capacetes por dia. Quantos capacetes são vendidos em 15 dias?
315 capacetes.
Nestes exemplos os professores poderão escolher as atividades adequadas aos conteúdos trabalhadosna disciplina, interpretar e debater as situações dos problemas.
Como visto, a inclusão do trânsito na disciplina de Matemática é viável. No entanto, para que a educação para o trânsito aconteça, não basta efetuar cálculos e operações matemáticas e representá-las em tabelas ou gráficos, o mais importante é analisar e refletir sobre os dados coletados e as informações obtidas, oportunizando o debate e a manifestação de opiniões a respeito do assunto.
A próxima disciplina que vamos estudar é a de Ciências Naturais.
Nesta disciplina, o tema trânsito pode ser abordado em questões relacionadas ao meio ambiente, como:
Na disciplina de Ciências Naturais, o trânsito pode ser abordado ainda nas questões relacionadas ao corpo humano, Por exemplo:
É importante, refletirmos também sobre as questões comportamentais que envolvem a disciplina de Ciências Naturais, relacionadas à ética e ao trânsito, como o “autocuidado”, o respeito à vida, à natureza e ao espaço público.
Veremos agora, sugestões de como trabalhar a educação viária na disciplina de História.
Nesta disciplina, pode-se trabalhar o trânsito fazendo relações entre o passado e o presente a fim de que os estudantes desenvolvam noções de diferença e semelhança, de continuidade e permanência, no tempo. Em História, entre as diversas possibilidades, poderemos iniciar a abordagem sobre:
Nesta disciplina, é importante provocar nos estudantes reflexões sobre as consequências das mudanças no trânsito. Por exemplo, as doenças que surgiram devido ao aumento da frota e à violência viária. É necessário, porém, que essas reflexões resultem em propostas para a melhoria no trânsito e na qualidade de vida das pessoas.
As questões que envolvem o trânsito podem ser abordadas a partir de diversas atividades artísticas como: desenhos, pinturas, produções de peças teatrais, músicas, esculturas, entre outras.
Vejamos o exemplo de uma paródia.
ANDANDO NA RUA
(Música: Se esta rua fosse minha)
Toda rua, toda rua tem perigos,
Você deve, você deve se cuidar,
Pois sua vida, pois sua vida é importante,
Para que, para que se aventurar.
Olhe bem, olhe bem por onde anda,
Atravesse, atravesse com atenção,
Use sempre, use sempre a faixa branca,
Para sua, para sua proteção.
Se o sinal, se o sinal está vermelho,
É preciso, é preciso esperar,
Se o sinal, se o sinal estiver verde,
Você pode, você pode atravessar.
Esta letra proporciona a reflexão sobre os cuidados ao atravessar a rua e sobre o valor da vida. Pode ser aplicada também na disciplina de Língua Portuguesa.
Continuando a reflexão, vamos verificar a contextualização do tema trânsito na disciplina de Educação Física.
Nesta disciplina, é possível, adaptar vias no pátio da escola e simular com os alunos situações encontradas no dia a dia do trânsito, como: ruas sem calçadas, por exemplo. Nestas simulações, o professor pode orientar seus alunos sobre a maneira segura e correta de agir diante de tais situações.Pode também trabalhar o desenvolvimento de habilidades corporais e o desenvolvimento de noções espaciais com os estudantes, nossos futuros motoristas.
A disciplina de Educação Física possibilita um trabalho mais concreto, capaz de complementar as teorias demonstradas nas demais disciplinas curriculares.
Como vimos, é possível trabalhar o trânsito como tema transversal na escola, em várias ocasiões. Ora em Língua Portuguesa, ora em Matemática, ou em Geografia, cabe ao educador verificar o melhor momento de introduzir a educação viária no conteúdo curricular. O fundamental é que seja trabalhado com qualidade e com continuidade.
Referências:
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular – BNCC 3a versão. Brasília, DF, 2018.
______. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997.
RIOS, Irene. Andando na Rua. In. Coleção Transitando com Segurança. Transtec Educacional. Campo Grande. 2016. Disponível em: https://youtu.be/6MBrLKiE6VE. Acesso em 14 Nov.de 1019.
ROZESTRATEN, Renier J. A. Psicopedagogia do trânsito: princípios psicopedagógicos da educação transversal para o trânsito para professores do Ensino Fundamental. Campo Grande. UCDB, 2004.
Irene Rios
Mestra em Educação; Especialista em Meio Ambiente, Gestão e Segurança de Trânsito e em Metodologia de Ensino.