Sobre a carga horária para formação na disciplina Legislação de Trânsito, em 32 horas não se consegue ler sequer o CTB inteiro, quem dirá preparar para conhecer os muitos detalhes, curiosidades e a interpretação adequada das leis de trânsito. Tudo bem que o processo de formação não se extingue aí, com o curso de formação de instrutor, e vai depender do interesse e da pesquisa para complementar essa formação. Mas, para exercer o ato de ensinar a dirigir, é ainda muito pouco.
Os conteúdos de primeiros Socorros e de Medicina de Tráfego são muito amplos para apenas 12 horas-aula, assim como 20 horas de Direção Defensiva (que passa pela reconceitualização para Direção Preventiva) e Noções de Respeito, Proteção ao Meio Ambiente e de Convívio Social no Trânsito.
E a formação teórica em Psicologia do Trânsito, hein? O que se consegue fazer e aprender em apenas 8 horas-aula em se tratando de uma Ciência tão complexa e dinâmica e de que cujos conteúdos se necessita tanto saber e aprender?
Há pessoas se matriculando em curso de formação de instrutor que nunca abriram o capô de um carro (isso existe), ao que remete ao questionamento de uma carga horária de apenas 8 horas-aula para Noções sobre Funcionamento do Veículo/Mecânica Básica.
Duas disciplinas também consideradas chave na formação do instrutor são: prática de Direção Veicular em Veículo de Duas e Quatro Rodas (24 horas-aula) e Prática de Ensino Supervisionado (20 horas-aula), em que o futuro instrutor vai simular o ensino da direção veicular ao professor/instrutor ou ao colega de curso.
A questão aqui nem é aumentar a carga horária, mas sim, a adequação dos conteúdos, mas sim, a atualização a duas realidades: as novas formas de se ensinar e aprender a dirigir e suas ferramentas para gestão organizacional, administrativa e pedagógica dos CFC’s; e a realidade que encontrada e enfrentada com dificuldades pelos novos profissionais em seus primeiros empregos como instrutor: “nunca ensinei um aluno de verdade, e agora?”
Das duas uma: ou se apega aos instrutores mais experientes e acaba absorvendo os ranços, os vícios e muitas vezes os descontentamentos de alguns para continuar o adestramento, ou vai aprender a ensinar por tentativa e erros. Provavelmente, muitos vão continuar ensinando para passar no exame prático, a insistir nas velhas práticas de ensinar a encontrar o tal “ponto da tremidinha” para o veículo se mover, vão se especializar em pontos de referência em diversas partes do veículo para ele caber na vaga no dia da prova, a contar voltinhas no volante em vez de mostrar ao aluno a importância de saber a resposta que o carro dá aos movimentos mais refinados e lentos de volante.
Se queremos mesmo, de verdade, melhorar a formação de condutores no Brasil, temos de olhar com muito compromisso para a qualidade da formação dos instrutores. Temos que chamar à responsabilidade cada um dos envolvidos no processo de ensinar e aprender a dirigir em todas as suas pontas: Denatran, Câmaras Temáticas, Contran, Detran, Centros de Formação de Condutores e de Instrutores, todos os profissionais na ativa e inclusive os alunos!
É preciso mais humildade e menos corporativismo para que não se continue “achando” que toda crítica é destrutiva ou que outros profissionais que possam contribuir neste processo de atualização e melhoria (Pedagogos, Psicólogos, Sociólogos, Peritos, Pesquisadores na área científica e outros) não tenham autoridade ou competência para tanto.
Para não continuarem “achando” que quem não tem carteirinha não pertence ao clube. Até porque, a formação de instrutores e de condutores é feita por gente de carteirinha e está como está: altos índices de reprovações e condutores despreparados para dirigir sozinhos, sem autonomia, sem saber tomar decisões no trânsito e se envolvendo cada vez mais em acidentes por imperícia. Alguém avise ao rei que ele está nu.
Postado no Sem medo da verdade – http://amorimsanguenovo.blogspot.com.br/2015/01/que-instrutores-estamos-formando.html