Fortune Mouse
Efeito chicote
| Postado em 06 de dezembro de 2019 às 9:15

Em SP, mãe relata morte após acidente e alerta sobre ‘efeito chicote’

Por Redação Portal

Em um acidente de trânsito, Miguel sofreu uma grave lesão neurológica aos 8 meses. "Um dia, uma pessoa fez a má escolha de sair de casa com a habilitação suspensa, andou acima do limite de velocidade e ultrapassou o farol vermelho", desabafa a mãe. Depois de mais de três anos de tratamento, infelizmente, o pequeno não resistiu

Em SP, mãe relata morte após acidente e alerta sobre ‘efeito chicote’
Fotos reprodução Facebook

Grávida do Miguel, seu segundo filho, a dona de casa Eloise Ghion Pires, 28 anos, de Guarulhos, São Paulo, passou por vários sustos: placenta mal posicionada, sangramentos, rim com tamanho aumentado, ameaça de trabalho de parto prematuro… “Numa dessas, fui para o hospital achando que era mais uma das correrias e que logo estaria em casa novamente, mas não foi assim. Eu fiquei, e lembro de quando estava sendo transferida, me colocaram dentro da ambulância e minha mãe disse: ‘É, essa gravidez vai ter muita história pra contar’, e nós caímos na risada. A vida dele era uma grande história pra contar, eu só não sabia disso ainda”, reflete. “Mesmo já estando internada, o parto tão antes da data prevista pegou todo mundo de surpresa: correria, confusão, medo e, então, alegria. Depois de tantos sustos, ele estava lá, com o rostinho colado ao meu”, lembra.

E, mesmo após o nascimento, os sustos continuaram. Miguel nasceu prematuro e baixo ganho de peso. “Mal resolvíamos uma coisa e outra aparecia. Mas a alegria de ter aquele bebê de personalidade tão peculiar superava todos os problemas. Um dia, quando parecia que, finalmente, estava tudo calmo e que a vida tinha entrado no eixo, surgiram vultos, barulhos ensurdecedores, gritos e desespero”, lembra. Em abril de 2016, quando Miguel tinha 8 meses, a família foi vítima de um acidente de trânsito. “Um dia, uma pessoa fez a má escolha de sair de casa, apesar da habilitação suspensa e da documentação irregular do carro. Transitou acima do limite de velocidade e ultrapassou o farol vermelho”, lamenta.

Foi assim que o carro onde estavam Eloise, sua mãe, sua irmã e seus dois filhos — entre eles, Miguel — foi atingido. “Eu nem mesmo havia entendido o que aconteceu quando percebi que as coisas não estavam nada bem. Embora eu olhasse para o meu bebê e não visse um arranhão, eu sabia que a situação era desesperadora. Não dava para sair do carro, minha mãe me pedia desesperadamente para eu entregar o Miguel para ela, e eu simplesmente não sabia o que fazer. Vi minha mãe, meus dois filhos e minha irmã serem levados para o hospital e me deparei com um carro destruído, um celular na mão, uma policial me fazendo perguntas e eu ali, perdida, sem saber o que fazer ou falar”, conta.

“Fui para o hospital desesperada por informações e, ao mesmo tempo, com medo do que eu estava para descobrir. Miguel foi levado para cirurgia às pressas. As chances de sucesso eram mínimas, mas não havia outra opção. A médica nos orientou a nos preparar para o pior. É possível estar preparado para o pior? Foram diversas paradas cardiorrespiratórias, hipovolemia, entre tantas outras complicações. Foi assim que encerramos aquele dia. Eu simplesmente não conseguia acreditar que tudo aquilo estava acontecendo com o meu pequeno ‘Gergelim'”, diz.

“TIVEMOS QUE APRENDER A VIVER UM DIA DE CADA VEZ”

Treze dias depois do acidente, Eloise teve a oportunidade de pegar o filho no colo novamente. “Ele estava entubado, com sonda, com catéter, com a cabecinha toda enfaixada e inchado. E, mesmo assim, talvez tenha sido o momento mais emocionante da minha vida. Eu chorava, mas não de tristeza e, sim, de alegria por Deus me dar outra chance”, lembra.

“Infelizmente, a lesão do Miguel foi inevitável. Nossas cadeirinhas não evitam completamente o ‘efeito chicote’ — onde a cabeça da criança é lançada para frente e para trás com força — principalmente em casos como nosso, onde foram múltiplas pancadas em diversas direções”, afirma a mãe. O pequeno teve sequelas graves e irreversíveis. “Segundo os médicos, os exames dele eram incompatíveis com a vida”, lembra. Ele sofreu uma lesão neurológica e desenvolveu uma epilepsia de difícil controle — não andava, não tinha controle cervical pleno e ficou com déficit de deglutição. Foram anos de terapias, fisioterapia, equoterapia, terapia ocupacional e fonoterapia. “Ele mostrava bom entendimento das coisas, mas não falava, apenas poucas coisas, mas sabia se expressar. Quem conviva com ele, sabia identificar o que ele queria e o que sentia”, diz a mãe.

Mas Miguel superou todas as expectativas e surpreendeu até os médicos. “Vi meu filho, que estava condenado a passar a vida respirando com auxílio de aparelhos, voltar a respirar com os seus pulmões, como se nada fosse mais simples do que isto. Aprendi o valor do seu choro, do seu bocejo, de cada movimento, de cada tosse, de cada abrir de olhos. Vi meu filho, que não tinha nenhuma possibilidade, deixar a UTI depois de 29 dias. Vi meu filho, que talvez jamais deixasse o hospital, sair depois de 37 dias de internação. Quando trouxe Miguel pra casa, tive medo. Muitas vezes, eu chorei; muitas vezes, nos sentimos fracos, mas, todos os dias, eu tive motivos para agradecer”, afirma.

“TODOS OS DIAS SÃO DIFÍCEIS, MAS, ALGUNS, SÃO VERDADEIRAMENTE INSUPORTÁVEIS”

Miguel completou 4 anos no dia 28 de julho. Mas, infelizmente, partiu no dia 3 de setembro. “Há três meses, ele teve morte súbita por conta da epilepsia. Hoje, eu digo que um dia não é igual ao outro. Todos os dias são difíceis, mas alguns são verdadeiramente insuportáveis. Eu tento ser forte e corajosa como ele sempre foi, até porque tenho mais três filhos — dois frutos de adoção e um biológico”, conta Eloise. “Miguel nunca foi um peso, ao contrário, foi um imenso privilégio tê-lo na minha vida”, completou.

Segundo Eloise, a motorista que bateu no carro da família não foi responsabilizada pelas graves lesões de Miguel. “Já na delegacia, fui avisada que, apesar da gravidade do ocorrido, não caracterizava dolo. Mas dez meses após o acidente, eu a procurei. Não acreditava que alguém pudesse fazer isso e ser indiferente. Infelizmente, descobri que sim, uma pessoa pode causar tudo isso e ser indiferente. Ela não se sente responsável, acredita que foi uma fatalidade e ponto. Nunca nos procurou, nunca ajudou”, revela. “Todos veem o Miguel como a única vítima do acidente, porque é visual. A verdade é que todos somos vítimas. Minha irmã desenvolveu esquizofrenia, eu tive vários problemas de saúde, meu marido teve que mudar toda sua vida profissional. Mudamos de casa, de vida. Todos saímos destruídos daquele acidente. E, hoje, estamos sem o Guel”, finaliza.

ENTENDA O ‘EFEITO CHICOTE’

Segundo o médico e vice-presidente da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), José Heverardo da Costa Montal, os acidentes de trânsito estão entre as maiores causas de lesões medulares em crianças. “A cabeça delas é maior e mais pesada que o corpo, elas têm mais riscos de sofrerem danos irrecuperáveis que os adultos”, diz.

No Brasil, a Resolução 277 do Contran permite que a cadeirinha seja virada para frente assim que o bebê completa 1 ano, o que representa um risco adicional grave, na opinião dos especialistas. “Manter a criança no bebê conforto virada para trás pelo maior tempo possível garante uma maior proteção contra o ‘efeito chicote’, que é quando a cabeça é protejada para frente e volta com velocidade para trás”, explica. No entanto, em casos mais graves, como foi o acidente envolvendo Miguel, onde há multiplas pancadas, não há garantias de que a cadeirinha possa proteger a criança completamente. De acordo com a ONG Criança Segura, de fato, a cadeirinha pode reduzir os riscos de lesões em cerca de 90%, mas nenhum dispositivo pode garantir 100% de proteção.

A Associação publicou em sua página na internet um conjunto de diretrizes, ou seja, orientações de segurança para o transporte de crianças. Como, por exemplo, a importância da criança sentar na posição central do banco traseiro e da desativação do airbag ao transportar menores de 14 anos na frente.

Fonte
Crescer


Tags


Deixe sua reação


Deixe seu comentário

Notícias Relacionadas
Mais Vídeos
Ambulância: dê a preferênciaAmbulância: dê a preferência
Vídeos

Ambulância: dê a preferência

Seja você a mudança que quer para o mundoSeja você a mudança que quer para o mundo
Vídeos

Seja você a mudança que quer para o mundo

Clubinho Honda – Segurança no TrânsitoClubinho Honda – Segurança no Trânsito
Vídeos

Clubinho Honda – Segurança no Trânsito

Em todo o mundo pessoas arriscam a sua vida e dos seus no trânsitoEm todo o mundo pessoas arriscam a sua vida e dos seus no trânsito
Vídeos

Em todo o mundo pessoas arriscam a sua vida e dos seus no trânsito

0
Would love your thoughts, please comment.x