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Quais os desafios da mulher que tem dupla jornada e utilização transportes público em SP

A mulher que enfrenta a chamada “dupla jornada”, que envolve responsabilidades tanto no trabalho quanto nas tarefas domésticas e familiares, encontra desafios adicionais ao utilizar o transporte público na capital de São Paulo. Esses desafios são relativos diversos requisitos que deveriam ser propostos e atendimentos pela Administração e sociedade, desse modo, elencamos alguns para o tema:
Limite de Tempo: Mulheres com dupla jornada muitas vezes têm horários apertados devido às suas responsabilidades no trabalho e em casa. A falta de pontualidade e eficiência no transporte público pode afetar diretamente a gestão do tempo dessas mulheres.
Condições Precárias durante o Deslocamento: O transporte público, especialmente durante horários de pico, tende a ser lotado e desconfortável. Isso pode ser ainda mais desafiador para mulheres que já estão cansadas de uma jornada de trabalho e têm a preocupação adicional com as tarefas domésticas, além da maioria das mulheres se submeterem a uma distância da casa até o trabalho que depreende de mais de 1 tipo de transporte público.
Segurança Pessoal: Mulheres que utilizam o transporte público em horários noturnos podem se sentir mais vulneráveis à violência e ao assédio. A preocupação com a segurança pessoal pode impactar suas escolhas de transporte e até mesmo limitar suas atividades fora de casa. Vale destacar que a maioria das mulheres que necessitam do transporte público, são residentes em regiões distantes e muitas em condições vulneráveis, além de provadora do lar que diante desse fator, não só as tarefas como cuidado com filhos à impõe num regimento de horários que nem sempre são passíveis de cumprir diante da instabilidade do sistema de transporte público.
Estresse Adicional: Lidar com a pressão do trabalho e, ao mesmo tempo, se preocupar com as tarefas domésticas e a logística do transporte público dela própria e dos filhos pode resultar em níveis elevados de estresse e fadiga, os quais tem ocasionado aumento da utilização e medicamentação para ansiedade, depressão. Destaca – se o assunto à relação entre a pandemia e o aumento do estresse é um tema de preocupação global, e vários estudos têm sido conduzidos para entender o impacto psicológico da pandemia na população em geral. Esses estudos podem abordar questões como ansiedade, depressão e o uso de medicação relacionada ao estresse.
Estudos internacionais apontam que a prevalência de esgotamento mental, também conhecido como síndrome de burnout, é 25% maior entre as mulheres.
A sobrecarga de trabalho, dentro e fora de casa, a pressão financeira e o desafio de conciliar múltiplas tarefas e a rotina de cuidados com crianças e idosos estão entre os fatores que mais têm impactado a saúde emocional de mulheres brasileiras, segundo o relatório “Esgotadas”, da ONG Think Olga.
De acordo com o documento, 86% das brasileiras consideram ter muita carga de responsabilidade, e 48% sofrem com uma situação financeira apertada, num contexto em que 28% se declaram como única ou principal provedora de seu lar e que 57% daquelas entre 36 a 55 anos são responsáveis pelo cuidado direto de alguém.
Falta de Apoio Estrutural: A falta de políticas de suporte à maternidade, creches acessíveis e instalações adequadas para mães nos transportes públicos pode dificultar ainda mais a vida das mulheres que enfrentam a dupla jornada.
No Brasil, há 60 milhões de mulheres mães e uma boa parte delas deixa de trabalhar porque não têm com quem deixar os seus filhos. A falta de uma política de apoio à maternidade, seja nas empresas privadas, como a falta de creches oferecidas pelo Governo, tem reflexos na permanência das mulheres em seus empregos. Uma pesquisa feita pela Instituto Locomotiva, que ouviu 1.882 pessoas, mostrou que 17% das entrevistadas que não estavam trabalhando apontavam como principal motivo a falta de estrutura para deixar os filhos, entre os homens esse percentual é zero. as mulheres recém mães precisam lidar com algumas expectativas do mundo masculino que aumenta suas jornadas. Para a maioria dos homens, a trabalho doméstico é feminino, um dado que se reflete na cultura machista brasileira
Falta de Flexibilidade: A inflexibilidade nos horários e na prestação de serviços de transporte público pode dificultar a conciliação entre a vida profissional e pessoal.
No ano 2023 mostra recuperação do transporte público, com a retomada das viagens realizadas sobre 2022, mas o ajuste da oferta e da qualidade, com flexibilização de contratos e prioridade do transporte público, é uma das principais demandas. Em 2023, os dados da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) indicam uma recuperação do transporte público no Brasil, que deve atingir 33,8 milhões de viagens em todo o país frente a 30,4 milhões registradas em 2022.
O número é, porém, ainda inferior aos dados pré-pandemia de 2019: quando foram realizados 40,4 milhões de deslocamentos. A retomada passa pela mudança na forma como o transporte coletivo é visto no Brasil, especialmente nos quesitos oferta e qualidade. “Frequências de horários fechados, rotas de linhas imutáveis… Isso não condiz com as expectativas das pessoas sobre o transporte coletivo. Temos que pensar em novos serviços adequados ao mundo moderno”, (Luis Antonio Lindau)
Para enfrentar esses desafios, é crucial que haja esforços contínuos das autoridades de transporte público e das organizações governamentais para melhorar a eficiência, segurança e acessibilidade do sistema. Além disso, a implementação de políticas de suporte à maternidade, a promoção de ambientes de trabalho flexíveis e a conscientização sobre as necessidades específicas das mulheres com dupla jornada são passos importantes para criar um ambiente mais inclusivo e equitativo.
Mércia Gomes
Especialista em Trânsito e Mobilidade Urbana
Conselheira do CETRAN/SP
@mgconsultoria