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Motorista de uber fatura ajudando argentinos
Por Redação Portal
O casal até cogitou pegar um ônibus da capital gaúcha até a Uruguiana, mas ficaram com medo de não conseguir a atrasar ainda mais a saída do Brasil.
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A distância entre a Praia de Bombas e a de Quatro Ilhas, em Bombinhas, Santa Catarina, é de 4,9 km e o tempo de viagem é de 15 minutos. Foi neste breve deslocamento que Juan García e sua namorada, ambos argentinos e na faixa dos 30 anos, conheceram o motorista de Uber, Nildo de Souza. No rádio a pandemia do novo coronavírus dominava o noticiário naquela quarta-feira, dia 18 de março.
Menos de 48 horas depois o mesmo casal estava abandonando suas férias e indo às pressas com o Nildo para a cidade de Uruguaiana, na divisa entre Rio Grande do Sul e Argentina, a 1.136 km de Bombinhas e em uma corrida de R$ 1,8 mil.
Quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou o coronavírus como uma pandemia, em 11 de março, o governo argentino declarou a volta imediata de todos os residentes para o país e fechou as fronteiras no dia 16 de março.
No dia 20 de março, sexta-feira, às 5h30, Nildo pegou o casal no camping que estavam com a intenção de irem até o Aeroporto de Navegantes. “Eles estavam apavorados com a pandemia e preocupados com os pais e familiares da Argentina. E ainda com medo de não conseguir voltar para o país”, conta Nildo.
De onde eles saíram até o aeroporto a distância era de 67 km. A princípio, a passagem de volta dos argentinos estava marcada para o dia 24 de março, mas o voo deles foi cancelado pela companhia aérea.
Juan entrou em contato para ver se conseguiriam a antecipação, mas não houve retorno. O consulado argentino o orientou a ir direto para o aeroporto comprar as passagens o mais rápido possível.
Mas ai surgiu outro problema. A prefeitura de Bombinhas decretou que todos os hotéis e pousadas antecipassem a saída de seus hóspedes para fechar a cidade. Então a situação afunilou ainda mais.
Com medo de ir até o aeroporto, não conseguir passagem e ainda não ter como voltar para Bombinhas, onde estavam com amigos que moram no Brasil, o casal não viu outra alternativa a não ser ir para Uruguaiana – única via terrestre permitida para atravessar a fronteira – e tentar ir para a Argentina.
Quando saímos de Bombinhas, paramos em um posto e abasteci meu Fiat Grand Siena com gás natural GNV. Compramos água e alguns biscoitos para comer. E tivemos sorte! Até sair do estado de Santa Catarina, nenhum posto havia mais loja de conveniência por decreto de segurança. O próximo que conseguimos parar foi só em Porto Alegre no Rio Grande do Sul, mais de quinhentos quilômetros depois”, relembra.
O casal até cogitou pegar um ônibus da capital gaúcha até a Uruguiana, mas ficaram com medo de não conseguir a atrasar ainda mais a saída do Brasil.
Nildo, que também é guia turístico da península, conta que por conta da distância, o Uber não fechava a corrida, então ele fez pela sua própria empresa de transporte. “Meu MEI de transporte é válido em território interestadual, intermunicipal e internacional. Se eu conseguisse atravessar para a Argentina eu levaria eles, mas como a fronteira estava fechada, tive que deixá-los bem na divisa”, diz.
O motorista conta que a falta de suprimentos pelo caminho tornou a viagem ainda mais dramática para o casal, que de acordo com ele eram muito simpáticos apesar da apreensão. A comunicação foi boa, já que Nildo lida muito com estrangeiros em Bombinhas.
Mas o drama do casal estava longe de terminar. Já em Puerto Iguazú, território argentino, Juan contou que os funcionários da Saúde Pública usaram pistolas infravermelhas para medir a temperatura e verificaram a garganta deles e de todos os viajantes presentes para saber se estavam infectados com o Covid-19.
Aqueles que tinham passagens aéreas ou de ônibus para diferentes partes do país foram transferidos. García e sua namorada, junto com um outro grupo de turistas, tiveram de passar a noite no lado de fora da alfândega, pois não havia espaço para todos, além do risco de uma possível contaminação com o novo coronavírus.
“Eles não nos deixaram entrar, recebemos tratamento deplorável. Dormimos no chão com temperaturas muito baixas. Tinha apenas alguns colchões para descansar, mas estavam molhados e sujos”, relatou o argentino. “Não havia comida, muito menos água. Encontrei algumas garrafas de água, mas não disseram se era potável ou não.”
Doze horas depois de chegar ao local, um membro da família de Juan conseguiu duas passagens para Buenos Aires, e de lá, um ônibus para sua cidade natal deles, Vicente López, que fica na região metropolitana da capital argentina.
Enquanto isso, Nildo estava no caminho de volta e conseguiu descansar durante quatro horas em um posto de gasolina. Mais ou menos por volta das 12h do sábado, 21 de março, ele chegou em casa. Mas a folga durou pouco.
No domingo de manhã, às 7h, a pedido de um casal de idosos argentinos, Rosmari Dubal e Roberto Guida, que são clientes dele há dois anos, Nildo partiu no mesmo caminho para levá-los a Uruguaiana. Porém, o como o casal que já tem mais de 70 anos, eles tentaram arriscar pegar um ônibus de Porto Alegre até Uruguaiana. E conseguiram.
A corrida de Nildo, que deu R$ 1,3 mil, chegou em Porto Alegre às 14h, após sete horas de viagem. O casal contou à Autoesporte que o ônibus saiu apenas às 22h30 da noite e chegou a Uruguaiana às 7h do da seguinte. E todos os testes para saber se estavam infectados foram feitos ao atravessar a fronteira. Diferente do casal mais jovem, eles foram enviados para Pasos de los Libres pela idade avançada.
“Estávamos com muito medo de tudo, mas eu e meu marido, além de outras quinze pessoas, fomos bem tratados até conseguir um ônibus de volta para Buenos Aires, que só aconteceu às 22h”, conta dona Rosmari.
“Os argentinos são bem desconfiados, mas depois que pega amizade e ganha confiança, não te largam mais”, ressalta Nildo, que se sente feliz por ter percorrido quase 4 mil quilômetos em três dias e ter ajudado os casais. O fechamento da cidade parece ter surtido efeito, pois até o momento Bombinhas não registrou nenhum caso de coronavírus.
Fonte
Revista Auto Esporte
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