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14/01/2020 às 5:13 | Atualizado em 14 de janeiro de 2020

Como salvar quem nem sabe que precisa ser salvo?

Por Rodrigo Vargas de Souza

Mas não é exatamente esse o ponto que quero abordar no texto de hoje, mas a questão da saúde, por isso o exemplo da vacina.

Como salvar quem nem sabe que precisa ser salvo?

A Revolta da Vacina foi um movimento popular ocorrido no início do século passado no Rio de Janeiro, capital do país na época. Sua causa principal foi a lei que determinava a obrigatoriedade da vacinação contra a varíola, embora possa também ser associada a causas sociais, como as reformas urbanas que vinham sendo implementadas pelo então prefeito Pereira Passos e as campanhas de saneamento, encabeçadas pelo médico Oswaldo Cruz. Qualquer reforma urbana realizada, seja ela planejada ou não, impacta diretamente na mobilidade local. Mas não é exatamente esse o ponto que quero abordar no texto de hoje, mas a questão da saúde, por isso o exemplo da vacina.

Eu gosto de usar essa analogia nas palestras, quando sou questionado sobre as campanhas educativas voltadas ao trânsito (ou a falta delas). Uma campanha de vacinação só tem sucesso se divulgada e se a população entender a sua importância e se sentir parte da mudança. Do contrário, ninguém iria se vacinar por vontade própria! E se hoje já há uma cultura de que as pessoas tomem certas vacinas, é porque foi feito isso há algum tempo atrás. Não dá pra cobrar que a equipe se saúde bata de casa em casa pedindo pras pessoas se vacinarem… tá na hora da Secretaria de Saúde inteira entrar em ação e lançar uma campanha!

CALMA LÁ, RODRIGO… O QUE EXATAMENTE UMA CAMPANHA DE VACINAÇÃO TEM A VER COM O TRÂNSITO?!

Para explicar a minha analogia eu preciso contextualizar minimamente a situação do trânsito por aqui. Porto Alegre faz parte desde 2011 do Programa Vida no Trânsito (PVT), que foi criado pelo Ministério da Saúde e visa, de forma intersetorial, isso é, envolvendo não só os órgão da área da saúde, mas da segurança pública e da gestão de trânsito, no intuito de melhorar além da captação de dados, o pronto atendimento de vítimas de acidentes de trânsito, bem como conhecer quem está morrendo e porque, para pensar, a partir de dados estatísticos concretos, em campanhas de forma preventiva e não apenas reativa, além de subsidiar os eixos da engenharia e fiscalização.

Programa Vida no Trânsito

O PVT foi uma das ações realizadas no Brasil para colaborar com as metas propostas pela Década de Ação para Segurança Viária de redução de 50% no número de mortes no trânsito até 2020. Meta a qual Porto Alegre, conforme o gráfico abaixo, já alcançou com dois anos de antecedência.

Fonte: https://eptctransparente.com.br/acidentes

No entanto, apesar da ótima notícia, o gráfico traz um dado incompleto ou desatualizado: o número de 56 morte referentes ao ano de 2019 provavelmente é parcial, talvez de Janeiro à Setembro, pois, até o dia da publicação desse texto, temos o mesmo número de vítimas fatais de 2018.

Esses dados nos levam a triste constatação de que, após 4 anos seguidos de redução, no ano de 2019 essa redução não se manteve. E o pior, esse número ainda pode subir, levando-se em consideração que, desde 2009, Porto Alegre segue a sugestão da Organização Mundial de Saúde de acompanhar as vítimas de acidentes de transito por até 30 dias de hospitalização. Portanto, se uma pessoa que se acidentou em dezembro de 2019 vir a óbito no hospital até de 30 de Janeiro de 2020, esse dado é computado no ano de 2019.

Como já mencionei nesse outro artigo, Porto Alegre hoje é considerada a capital do idoso. Por isso, não causa espanto o fato de que aproximadamente 30% das vítimas de acidentes de trânsito fatais na cidade envolvam esse público, sobretudo com o aumento tanto da expectativa quanto da qualidade vida. Segundo dados do PVT, dessas 75 vítimas, 22 eram idosos.

O ano de 2020 infelizmente começou seguindo a mesma tendência. A primeira vítima do ano foi uma senhora de 73 anos, atropelada no final da tarde do último sábado, dia 4, numa avenida de grande circulação da zona sul da cidade. O fato deixou as autoridades de trânsito da cidade em alerta, pensando em mais ações que possam ser feitas para atingir o público em questão. E é nesse ponto que quero voltar a campanha de vacinação. Os órgãos gestores de trânsito obviamente têm a responsabilidade de manterem um trânsito seguro e índices de acidentalidade o mais baixos possíveis.

Entretanto, assim como em campanhas de vacinação, a população tem de fazer a sua parte e assumir o compromisso e o protagonismo nessa mudança. Assim como na Revolta da Vacina, onde a população se posicionou de forma ativa porque sabia que precisava ser vacinada. Mas o que fazer quando as pessoas não sabem que precisam ser vacinadas? O que fazer quando morrem 1,3 milhões de pessoas por ano em todo mundo acometidas por um “vírus” que, embora já diagnosticado, poucos parecem ver? A Varíola só foi considerada erradicada pela Organização Mundial da Saúde em 1980 e, entre os sobreviventes da doença, as sequelas mais comuns eram a extensa cicatrizes na pele e cegueira. Talvez isso explique a atual dificuldade para enxergar soluções para a problemática do trânsito…



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