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Especialista critica Maio Amarelo e diz que Brasil está na contramão do trânsito seguro

Enquanto o Brasil registra mais de 30 mil mortes por ano em acidentes de trânsito, a campanha Maio Amarelo tenta chamar atenção da população para a segurança nas vias. No entanto, para a psicóloga Cecília Bellina, especialista em medo de dirigir, o movimento tem efeito limitado se não estiver acompanhado de ações concretas de educação e fiscalização.
“Uma campanha só atinge seu objetivo quando o tema já está enraizado na cultura das pessoas. No Brasil, a palavra ‘trânsito’ ainda é sinônimo de congestionamento. Pouca gente entende que trânsito é um ambiente social formado por pessoas, veículos e até animais. E que ele reflete o nível de desenvolvimento de um país”, afirma.
Criado em 2014, o Maio Amarelo é um movimento internacional de conscientização para a redução de acidentes. A cor amarela foi escolhida por simbolizar atenção e advertência no trânsito. No Brasil, a campanha conta com ações de comunicação promovidas por órgãos públicos e entidades privadas.
Segundo Bellina, no entanto, a abordagem segue superficial. “A cada feriado, a pauta é a mesma: número de mortos, acidentes, greve de motoristas ou caos no transporte coletivo. Quase nunca se fala de trânsito como uma questão de cidadania e saúde pública”, critica.
A psicóloga, que atua há mais de três décadas com pessoas que sofrem medo de dirigir, defende que a formação de condutores precisa começar nas escolas. “Nos países desenvolvidos, crianças aprendem sobre trânsito desde cedo. Aqui, muitas vezes nem na escola, nem em casa. E não é por má vontade: os pais também não foram educados. Como ensinar o que não se aprendeu?”, questiona.
Ela alerta ainda para o impacto dos maus exemplos dados por adultos no trânsito, como o uso do celular ao volante, excesso de velocidade e até consumo de álcool ao dirigir. “As crianças aprendem observando. Se veem seus responsáveis cometendo infrações, normalizam esse comportamento”, diz.
Além da ausência de educação formal, Bellina aponta falhas estruturais do Estado. “Faltam vias seguras, há descaso com a legislação e a punição é frouxa. Enquanto isso, investe-se em campanhas visuais quando o dinheiro deveria ser aplicado em ações práticas de prevenção e formação.”
De acordo com dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), o Brasil é um dos países com mais mortes no trânsito na América Latina. A psicóloga defende que o país precisa priorizar políticas públicas permanentes. “Estamos andando na contramão do trânsito seguro. Não adianta pintar de amarelo se a realidade nas ruas continua cinza”, conclui.
Fonte
Repórter Diário