Menos Burocracia, Mais Educação: O Verdadeiro Caminho para um Trânsito Melhor

No debate sobre segurança viária no Brasil, muito se fala sobre novas exigências e mudanças no processo de habilitação, mas pouco se discute sobre o que realmente salva vidas no trânsito: o equilíbrio entre Educação, Engenharia e Fiscalização. Esse é o tripé que sustenta um trânsito mais seguro e eficiente. No entanto, é preciso reconhecer que, entre esses pilares, a Educação continua sendo a base fundamental — e que ela já existe de forma estruturada no Brasil por meio das autoescolas, que há décadas são responsáveis pela formação teórica e prática dos condutores.

O Brasil é um dos poucos países do mundo que exige, de forma obrigatória, um curso teórico com aulas sobre legislação de trânsito, direção defensiva, meio ambiente e convívio social, além do treinamento prático em veículos adaptados e supervisionados por instrutores qualificados. Essa formação vai além da habilidade de conduzir um veículo: ela prepara o cidadão para agir com responsabilidade, empatia e respeito às leis de trânsito. Em vez de enfraquecer esse processo com medidas que aumentam a burocracia, como novas provas ou exames desnecessários, o país deveria fortalecer ainda mais essa base educativa que já está em funcionamento nas autoescolas. Criar novas exigências pode parecer, à primeira vista, uma forma de aumentar o rigor, mas na prática acaba afastando pessoas — especialmente as de baixa renda — do processo de habilitação, ampliando a informalidade e o risco nas ruas.

Enquanto a formação dos condutores avança, outras áreas ainda caminham lentamente. A fiscalização, por exemplo, é uma das grandes ausentes em muitos municípios. Em diversas cidades do interior, não há presença efetiva dos órgãos de trânsito, o que compromete o cumprimento das leis e a segurança dos usuários das vias. A fiscalização não deve ser vista apenas como um instrumento punitivo, mas como uma presença educativa e orientadora, que inibe o comportamento imprudente e reforça o respeito às normas. É essencial que os municípios invistam em estrutura, agentes capacitados e tecnologia para garantir uma fiscalização constante, inteligente e eficiente.

Do mesmo modo, a Engenharia de Trânsito é um componente vital para a segurança. Vias esburacadas, sem sinalização adequada, mal iluminadas ou sem faixas de pedestres são armadilhas cotidianas para motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres. Não se pode exigir que o condutor aja com perfeição em um ambiente viário cheio de falhas. A responsabilidade do poder público municipal é garantir que as vias estejam bem projetadas, conservadas e sinalizadas, com foco na prevenção de acidentes. Uma boa infraestrutura viária não apenas reduz colisões, como também facilita o fluxo do tráfego e melhora a convivência entre os diversos modais de transporte.

O Brasil não precisa de mais burocracia no trânsito. Precisa, sim, de políticas públicas sérias que valorizem o que já funciona e corrijam o que ainda falha. Valorizar a educação de trânsito que é ofertada nas autoescolas, exigir mais investimento em infraestrutura urbana e garantir a presença ativa da fiscalização é o caminho mais eficaz para um trânsito mais seguro. Quando esses três pilares atuam em conjunto, os resultados aparecem: menos acidentes, menos mortes, mais cidadania. Trânsito seguro se constrói com base sólida — e essa base começa com a educação.

Fonte
Alisson Maia