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Motociclista maior vítima da epidemia de acidentes
Por Abimadabe Vieira
Os motociclistas são as maiores vítimas da epidemia de acidentes de trânsito no Brasil. Segundo dados da Seguradora Líder, que gerencia o Dpvat – seguro por danos pessoais causados por veículos automotores de via terrestre –, nos últimos dez anos foram pagas 3,2 milhões de indenizações às vítimas do trânsito envolvendo motocicletas e ciclomotores. No período, quase 200 mil pessoas morreram, e outros 2,5 milhões ficaram com algum tipo de invalidez permanente. Os números retratam uma realidade alarmante e expõem a urgência em se adotarem políticas públicas voltadas à proteção dessa categoria.
Durante a pandemia, a combinação entre desemprego e aumento da demanda por serviços de delivery fez crescer também o número de profissionais que passaram a atuar com o motofrete. Seja a serviço de comércios ou aplicativos de entrega, a categoria se expõe a risco duplo, o de contaminação e de acidentes, para garantir o funcionamento da sociedade durante uma das fases mais difíceis já vividas pelos brasileiros.
As motos correspondem a apenas 29% da frota de veículos, mas são as responsáveis pela maioria dos casos de invalidez permanente no trânsito. E a maior parte dessas vítimas é composta por jovens. Para termos uma ideia do avanço desse problema na nossa sociedade, entre janeiro e março deste ano, ainda segundo dados da Seguradora Líder, 49.770 motociclistas ficaram inválidos em decorrência dos acidentes.
Estamos assistindo à criação de um exército de mutilados. São trabalhadores, pais de família, que perderam a capacidade de sustentar suas famílias e passaram a ser dependentes da Previdência Social. Além dos incalculáveis prejuízos sociais e emocionais, a violência no trânsito provoca a sobrecarga do Sistema Único de Saúde (SUS), já que 60% das vagas de UTI são ocupadas por vítimas dos acidentes, e o rombo na economia do país, aumentando os gastos com a Previdência Social.
A ausência de uma legislação trabalhista que dê garantias e segurança a esses profissionais acaba por deixar milhares de trabalhadores entregues à própria sorte, causando ainda mais dor e sofrimento. Neste mês em que se celebra o Dia do Motociclista (27 de julho), é preciso reforçar a necessidade de protegermos esses trabalhadores não só contra a contaminação pelo coronavírus, já que eles estão na linha de frente, mas também contra a insegurança no trânsito.
Toda a sociedade ganha com a redução dos números de acidentes, e esta deve ser uma das preocupações dos governos em todas as esferas. Não é hora de priorizar a flexibilização das regras do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), mas sim de criar mecanismos que promovam a segurança viária.
Alysson Coimbra de Souza Carvalho é médico especialista em medicina de tráfego e membro da Comissão de Assuntos Políticos da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet)
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